terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Via Cruxis







VIA CRUXIS

"Ele, porém, respondeu: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. Ao que ela disse: Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos."(Mateus 15;26,27)

A tarde é cinzenta, porém quente;
Quente e empoeirada - a poeira das ruas que nossos pés sacodem.
Hoje é a sexta sagrada,
É festa, vamos em bando!
Na velha Jerusalém se prepara a Páscoa.
No templo se oferece o cordeiro.
Fora há turbulência e vozerio; gritos e impropérios.
Um grupo explode: Crucifica-O !
E, acotovelando-se, assistem ao espetáculo - a passagem do Rei!
O festejo é sinistro - há um rastro de dor que seguiremos!
Caminhando entre a massa anônima
Ele passa irreconhecível: Vacila em seu andar cansado,
E vem coroado de espinhos.
Há suor em sua fronte, sangue em seus ombros,
Ombros que sustentam o madeiro.
E de Seu sangue, pingos se misturam com a terra.
No monte, o altar da morte se ergue.
É uma cruz o Seu trono.
Na placa: "Rei dos Judeus".
Parece porem que a turba não O reconhece ou menosprezou seu Rei.
Mas colocada de pé a cruz, nela, Ele nos acolhe de braços abertos.
Neste instante caem por terra meus deuses,
...de prata, de bronze, do melhor ourives...
Despencam todos de seus pedestais,
Caem espalhafatosamente meu orgulho piegas,
Minha vaidade ridícula,
Meu egoísmo miserável.
E agora que eles se desmantelam, não me sobra nenhum outro deus,
Mas tão somente o Deus que o Cordeiro nos veio demonstrar.
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Nuvens negras, trovões e lampejos
Agora cobrem a cidade santa.
De cima do madeiro o pastor contempla seu rebanho desditoso,
Sorve o vinagre do sofrimento humano que nós bem merecíamos
E chora a sua dor íntima.
Ainda há gritos e impropérios,
Angustia e desolação,
Sangue e suor.
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Cordeiro de Deus, lembra-Te de nós!
Quando entrares no Teu reino, lembra-te de nós!
Como ladrões, estamos crucificados ao Teu redor
Por muito que fizemos,
Mas não vi em Ti nada que Te condenasse.
Lembra-Te de nós!
E não Te esqueças de nos enviar
Gotículas cristalinas da misericórdia de Teu Deus
Para nos refrescar a alma cansada.
Não Te esqueças de nos recomendar a este Deus, o Deus-misericórdia que vieste nos ensinar.
Abençoa-nos com Teu olhar - que enche de luz caminhos tenebrosos.
E lembra-Te de nós!
Na dimensão de Teus palácios siderais,
Porque como cachorrinhos
Esperamos comer das migalhas que caírem de Tua mesa,
E nos sentiremos ditosos,
E nos deitaremos aos Teus pés
Certos do alimento que virá, sempre!
Aureolados pela luz d'A Vida
Teremos a água da fonte eterna -- inesgotável!
Nela saciaremos nossa sede milenar.
E cantaremos, como nos versos do "Rei dos Judeus":
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"


http://www.youtube.com/watch?v=WZMDmqmx0p0

Ayrton Senna

Nas estrada sinuosas vi meu destino,
Meu pai me disse:
"filho, supere seus limites"
No inconsciente gravei: "Viva rápido, morra jovem !!!!"
...e a morte foi minha companheira;
"minha morte nasceu comigo, brincou comigo...(Mario Quintana)"
...e correu comigo!
Venceu curvas e superou limites,
Travestida de belíssima ninfa, de alvíssimas vestes,
Que com um misto de ternura e cinismo me convidava a desafiá-la.
E sob essa estrela acumulei vitórias,
E sob o signo de Alexandre, ganhei o mundo,
Mas serei vencido por um muro,
Assim como o macedônico foi vencido pela febre.
A multidão anônima não acreditará,
Pois seus heróis não podem ou não devem morrer;
E quando minha ausência se fizer firme como meus troféus na estante,
Lágrimas quentes das amantes abençoarão a TV,
Não entendendo elas que a Morte as substituiu,
E amparado em seus braços e seios de ninfa,
Penetrando em suas entranhas,
Lhe provarei o supremo orgasmo.
Ponho o capacete e acelero a máquina que me levará a uma viagem sem retorno,
Estou no asfalto - duzentos quilômetros por hora!
Sinto-me livre, mas estou preso aos limites da estrada,
Ao circulo vicioso das curvas como a alma humana esta presa ao círculo vicioso das reencarnações.
E só aqueles que superam seus limites vencem esse círculo,
E transformam numa reta as curvas sinuosas do destino.
Firme piso no acelerador e supero mais uma curva,
Agora são 250 quilômetros por hora !!!!
Meu gólgota e minha cruz me esperam...
...em Imola me imolei !!!!
E tomo do cálice, pois no vinho do sacrifício há mel dulcificante.
E no êxtase máximo do passamento tomarei a morte em meus braços,
E nos promiscuiremos nos alvos lençóis do etéreo
Como amantes que há muito se procurassem,
E derramarei meu sêmem no espaço!
Acelero ainda mais: 300 quilômetros por hora!
É chegado o momento da morte da semente nas entranhas da terra
Para gerar vida !!!
E o muro que me aguarda são os braços ciclópicos dos moinhos que venceram Don Quixote;
E eis que a curva traiçoeira do destino se transforma numa reta!
Já posso ver o muro mais adiante!
É questão apenas de segundos...
A morte, belíssima ninfa, vestes alvíssima, como noiva ataviada abre os braços e me sorri.
"Doce companheira que esperei por toda vida,
Receba-me em seus braços, ampara-me,
Deixa-me repousar a cabeça dolorida em seus ombros."
E enquanto meu corpo de carne se desagrega
O infinito se abre diante de mim
Como estrada imorredoura, contínua, reta,
Para os desafios de uma eterna Pole Position.

Uma tarde com a amiga.

Desci aos porões dos meus desejos.

Uma carícia maliciosa e rolamos na cama.
Abri sua blusa, rasquei minha calcinha
Lá fora uma tarde fria - aqui dentro, nossa chama.
Você foi minha!
Onde estavam nossos homens?
Estávamos sozinhas!

Mordi seus lábios
Suguei seus seios
Beijei todo seu corpo
Mulher e amiga - olhar cúmplice.
Sedutora e cínica - um beijo quente,
Quente e molhado como nunca antes.
Mulher de apenas um homem e várias amigas.
Amigas não, amantes!

Voltaremos a rolar de novo na cama.
Quando nossos homens não estiverem por perto.
O toque, o abraço, o beijo quente,
O carinho malicioso, o desejo latente,
Não importando se errado ou se certo.

...e um fim de tarde juntas,
Debaixo do chuveiro, a água fria;
Sobre os corpos, o sexo ardente.
Depois, diante dos maridos, o sorriso confidente;
Tímido, acanhado, mas patente
Que nâo esconde nossa especial amizade fora de padrões:

O inconfessável desejo oculto em nossos porões.

A Harpa


A Harpa.

"Entramos. Ambiente simples e acolhedor. Móveis quase idênticos aos terrestres; objetos em geral, demonstrando pequeninas variantes. Quadros de sublime significação espiritual, um piano de notáveis proporções, descansando sobre ele grande harpa talhada em linhas nobres e delicadas."
("Nosso Lar" - André Luiz - Cap. 17)


Retorno ao Nosso Lar,
Volto à infância, venho em visita ao passado!
Encontro ainda a mobília simples
E quadros na parede como janelas,
Abertas à paisagens divinas - parecem inundar de luz o ambiente.
Há também um piano, e sobre ele, uma harpa.
A Harpa!
Instrumento atemporal - presença incômoda!
- me Leva de volta à uma época ainda mais distante,
- ainda mais recuada !
Lembranças adormecidas na minha casa mental!

Tenho medo de tanger a harpa !
Fazendo vibrar suas cordas
poderei ouvir um som que me faça tremer
E recordar qualquer coisa longínqua
Mescla de pesadelo e doce sonho.
Tenho medo de recordar caminhos esquecidos,
no som de um instrumento que não perdoa passados,
Qualquer coisa de escuros passados !

Alma culpada,
Temo que meu passado se exponha como quadros na parede.
Mas, que alegria: aqui eles são, em verdade,
Imagens de caminhos abertos ao infinito.
E uma luz branda e branca
Em forma de vulto
Convida-me a seguí-la.
Será um anjo que há muito me espera?
Deus mesmo em humana silhueta?

"O passado não importa" - diz o vulto -,
"Para a alma redimida na escola do pó da carne!"

Mas ainda assim tenho medo de tanger a harpa.

Janelas abertas, quadros vivos, de luz inundando o ambiente,
Ampliando veredas para o infinito - janelas divinas !
Dentro do recinto, a mobília simples, o piano, a harpa - o passado!
Lá fora, o futuro!
Onde aquele Ser, de branda e branca luz, me sorrir, e me abre os braços amigos.

http://www.youtube.com/watch?v=EBDrIjxmKuU

Garota de Programa

Meus pés não tinham um rumo
- vagueavam vagabundos.
Minha alma não tinha um prumo
- volúvel, vazia, flutuava
Meu corpo não tinha dono
- eu mesma não o possuía.
Mas tinha um preço.
E carregado pelas ondas da aventura
Era navio perdido, sem porto – meu corpo!
...e afundava em alcovas estranhas.
Meus seios conheceram bocas estrangeiras;
Meus lábios beijaram corpos desconhecidos;
Minha boca chupou falos de estranhos;
Mãos estranhas me apalparam;
Clientes me procuraram e me tiveram;
Homens vieram e por mim passaram;
Seres que jamais tornarei a ver.

Quando garota, o mar lambia meus pés,
Voltando agora ao local dos meus dezoito anos,
Piso a areia e o mar, reencontrando-me, vem novamente me beijar.
Mas ele não me paga por isso,
Eu que deveria retribuí-lo com meus carinhos.
Mas ele não pede.

Gemidos de prazer - neste momento - não vibram em meus ouvidos.
Agora é o silvar do vento na praia,
Por onde andou e por anda a antiga prostitutazinha.

...finalmente dona do próprio corpo,
Retorna ao lar,
Repousando na alcova das fantasias mortas da juventude.
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http://www.youtube.com/watch?v=Am3ygj_0hZ8

Maria Padilha

Sou Espírito e sou matéria.
- me completo na matéria!
Sou Sucubos, sou invasora.
Sou a rainha Pomba Gira.
Sou o anjo da sedução e da luxúria.
Sou mulher e sou deusa.
Tenho o prazer da carne no espírito!
(...enquanto você tem o espírito mergulhado no prazer da carne)
Venha ter comigo também.
Venha conhecer meu espírito e minha matéria.
Venhar se banhar no meu suor.
...se recarregar em minha energia
...me conhecer...
Sussurre meu nome em seu quarto.
...grite meu nome em sua alma!
Eu sou Padilha, Maria eu sou!
Maria Padilha !!!!!!!!

A Meretriz

Era uma meretriz na estrada
Ataviada, bonita, perfumada.
Tu me acenaste com um saquinho de moedas.
Negócio aceito, compraste meu corpo
Na estalagem de luxo
Deitei-me nua sobre teu corpo lindo de homem.
Com sede, chupei ávida teu membro
Como nenhuma mulher antes te fez.
Cavalguei teu penis como uma amazona sobre um corcel
Rebolados violentos de meretriz
Cadela!!!! Tu gritaste.
Cadela não, loba !!!! no cio
Para te devorar - sou loba
Meretriz, com sede de suor e esperma.
Tu me penetras com teu membro
Eu te penetro com meu olhar
Tenho agora minhas garras em ti.
Tu compraste meu corpo, mas eu roubei tua alma.
Tenta fugir! porta fechada, chave perdida!
Escravo meu agora tu és - do sexo !!!
Não viste com quem te meteste?
Com Padilha, a rainha pomba-gira! Logo com quem!
Só Deus pode agora te libertar, mas Ele não quer - e nem tu mesmo queres.
Tua mulher loba te devora todo, meu homem-animal.
Meu corpo suga até a última gota do teu esperma
E se banha no orvalho do teu suor
O dia amanhece e adormecemos abraçados - nús
Cansados de tanto gozar.