quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A NOITE


DETENHO-ME DIANTE DE UMA VITRINE .
A NOITE É CLARA - RESPLANDECE UMA CONSTELAÇÃO ARTIFICIAL !
ANÚNCIOS LUMINOSOS - A CIDADE É UMA GALÁXIA DE LAMPADAS!
NELA, A NOITE É INTENSA E COMERCIAL – UMA VIA-LÁCTEA DE NEON!
PERCO-ME NA NOITE DA GRANDE METRÓPOLE.
PERCO-ME POR SUAS AVENIDAS E ARTÉRIAS.
CARROS, ÔNIBUS E TRANSEUNTES POR MIM PASSAM.
SOU PARTE DELES, SOU UM PEDAÇO DELES E COMO TAL NÃO TENHO UM RUMO CERTO.
POR ISTO MESMO PAREI DIANTE DA VITRINE.
ESPERO ALGO OU COISA NENHUMA.
A VIDA É INTENSA E CÉLERE NESTAS RUAS ENTRE TORRES DE PEDRA E VIDRO.
SORVO UM CAFÉ NUM BAR BARATO;
BEBO UMA CERVEJA NA COBERTURA DE UM HOTEL;
DEGUSTO UMA TAÇA DE VINHO NO TERRAÇO DE UM RESTAURANTE.
E COM O ROSTO NA JANELA DE UM COLETIVO, PASSO VELOZ.
ESTACIONO COM AR PREOCUPADO DIANTE DE UMA LOJA.
TOCO PISTON NUMA BOATE...
... SIGO POR MINHA NOITE EM TEMPO DE JAZZ LENTO.
SOU TODOS E SOU NINGUÉM !
SIGO SÓ NA CONSTELAÇÃO DE MINHA NOITE, PERDIDO, ALEATÓRIO.
SOU AQUELE RAPAZ QUE ESPERA EM VÃO A NAMORADA QUE O ESQUECEU.
E A PROSTITUTA QUE ME OLHA COMO POSSÍVEL CLIENTE,
MAS EU SOU ELA ! - PERDIDA NA CIDADE, MINHA ALMA TAMBÉM AMANHECERÁ SÓ...
...MUITO EMBORA O CORPO POSSA ACORDAR AO LADO DE UM CLIENTE QUALQUER.
E SEMELHANTE AO RAPAZ ESQUECIDO, SINTO UM APERTO NO CORAÇÃO,
PERMITO QUE UMA LÁGRIMA DISCRETA DESÇA PELO ROSTO.
E ASSIM VAMOS, NA SOLIDÃO DA MULTIDÃO, PELAS ARTÉRIAS E AVENIDAS,
À LUZ DAS ESTRELAS ARTIFICIAIS.
POIS A NOITE É NOSSA, A ADORAMOS!
COMOS SERES BOÊMIOS, OU DAS TREVAS, VIVEMOS DELA – A NOITE É NOSSO REFUGIO !
GOSTARIA DE COMPARTILHAR COM TODOS A PROFUNDA SOLIDÃO QUE SORVO,
COMO ALCOÓLICO QUE MATA LENTAMENTE,
MAS, CONTRASENSO - ASSIM JÁ NÃO SERIA MAIS SOLIDÃO !
E ENQUANTO OS GIGANTES GASOSOS QUE ROLAM PELO INFINITO NOS SÃO INACESSÍVEIS,
OS LETREIROS DE NEON GUIAM NOSSOS PASSOS PERDIDOS.
AH, SE AO MENOS FOSSEMOS TAMBÉM ESTRELAS !
DIANTE DESTA VITRINE, MEU OLHAR, COMO FAROL, GUIARIA UMA VIDA ESQUECIDA,
IMPEDIRIA A QUEDA DE UM SER EM ABANDONO, DA SACADA DAQUELE ARRANHA-CEU.
A LUZ DE UM OLHAR SALVARIA UM VIDA !
A NOITE SE ALUMIARIA TAMBÉM AO CLARÃO DE NOSSA LUZ PRÓPRIA.
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MAS O DIA VIRÁ !
APAGARÁ A LUZ DAS ESTRELAS ARTIFICIAIS E OS GIGANTES GASOSOS DO INFINITO.
REVELARÁ A TAÇA DE VINHO, O COPO DE CERVEJA, A PROSTITUTA , O MUSICO DE jAZZ, O RAPAZ TRISTE, O ROSTO NA JANELA, O CORPO NA CALÇADA COMO COISAS DE UMA NOITE SUPERADA.
VIRÁ ILUMINANDO O RECANTO ESCURO DOS NOSSOS ESPÍRITOS.

...E OUTRAS NOITES VIRÃO !

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

No horizonte negro

Lucifer era o nome latino para o planeta Venus, antes de o usarem para nomear a lenda do anjo caído (baseando-se em Isaias 14).

Boa Viagem (Recife):
A cidade ainda dorme nas sombras da noite
E na linha do horizonte, Venus flutua !
Surge como um enfeite
Deusa, Filha do Sol, irmã da Lua
Brilha em luz branca como leite.
A noite da grande cidade carrega Venus,
- No profundo horizonte escuro
No pré- alvorecer, na linha do horizonte negro.

Dando luz a quem adormecia.
Alumiando as sombras profundas de nossa alma.
Assim Ela surge, antes do dia que urge, brilhante, branca, Luciferina...

A própria Lucifer !

Paira sobre a cidade grande a estrela Dalva

Anunciando para breve um alvorecer, a chegada de um dia novo.

Venus se mostra - sua face sobre a aurora...

...uma nova aurora que vem !

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sábado, 23 de julho de 2011

Aphrodite

Quadros de Pino Daeni:




Enquanto a esperava, na sala de estar os minutos voavam, e apenas velhos discos long-playing, com sua canções e seus estalos, me fizeram companhia, porque meus pensamentos eram um pássaro nos limites estreitos de minha imaginação sem voos.
Dos discos a música se insinuava com a volúpia das amantes, mas no quarto, a cama forrada ainda a esperava em corpo e alma, enquanto violinos, cellos e sopros ecoavam nas paredes de minha ansiedade.
Ouvi um abrir de trinco, mas apenas a brisa entrou pela janela, agitou as folhas de uma planta, sussurou uma canção antiga... e o sol, reaparecendo entre as nuvens, pulou pela janela, iluminou e aqueceu minh'alma.
Mas eu ainda a esperava, entre o tick-tack do relógio e os estalos da agulha no vinil.
E a esperei por uma tarde, e quando ela voltou, já então a lua vigiava o cotidiano vulgar dos homens; e seu clarão me visitou, entrou com ela, como se também quisesse ouvir as canções e os estalos.
E quando ela entrou, foi como se a brisa, o sol, a lua, reunidos me viessem fazer festa.
E ecoando entre nossas paredes, a musica de sua voz, os violinos, cellos e sopros silenciaram-se respeitosos, porque, ela, a deidade, trouxe a melodia dos astros para dentro do lar.
E numa oblação de amor e prazer, essa deusa me cobriu com suas asas, plenas de carinho e conforto, fazendo-me provar um orgasmo que apenas uma deusa pode proporcionar a um mortal.
...e adormeci cansado de gozo no regaço acolhedor de seu corpo.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Concerto para um verão




Na voz de Carmem Silva

Concerto para um verão perdido

Foi há muitos verões que te conheci;
O mar estava lindo e lambia meus pés;
Olhando o mar azul, bem junto a ti,
As jangadas pareciam brinquedos nas águas tranqüilas;
Nossa Estrela era um girassol de fogo iluminando tudo;
Sim, o Sol era um girassol de fogo iluminando tudo!
Feliz, até sonhei !
Mas os anos passaram;
Morreu o sonho, morreram as ilusões;
Lá fora agora é a tempestade que bate na janela;
O mar revolto e jangadas esquecidas nas areias;
Nas areias onde antes o mar me lambia os pés.
Chorei!
Por quê fui voltar aqui?
Apenas para lembrar o que se perdeu ?
Quando um novo verão chegar;
Nas areias quentes não mais se verá as marcas dos nossos passos;
As jangadas não mais trarão para estas areias o sabor antigo dos peixes;
E misturadas entre os sargaços, as conchas serão outras;
Aquelas de nossos dias estão numa gaveta;
Entre fotos e lembranças que cantam o réquiem de nossas vidas.



http://www.youtube.com/watch?v=tjargdBWUZ8&feature=related

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Lembrança em preto e branco

Pode ser melancólica a lembrança numa velha foto em preto e branco
Porém mais melancólico e triste pode ser uma manhã descolorida
Uma tarde sem brilho
Uma noite só, entre a janela e o copo
Uma música que reunia amigos
mas que agora apenas preenche o íntimo espaço vazio
Um passeio por lugares de antigas alegrias
Passos pelo asfalto de sonhos perdidos
Uma caminhada por vias de ilusões destruidas
Ruas onde a própria vida pode ter perdido seu rumo.

Triste é o resto de uma vida em preto e branco
Procurando o colorido que feneceu
Após aquela manhã inesquecível
Lembrança e vivência enternecedora
Guardada no imo d'alma
Mas que não mais voltará.


sábado, 30 de abril de 2011

A canção da Causa Primária

A letra de 'Mal Necessário" (gravada por Ney Matogrosso) e sua interpretação.

"Sou um homem, sou um bicho, sou uma mulher" - Ela não tem definição nem de tipo, nem de sexo, muito embora pareça ser uma entidade mais feminina que masculina.

"Sou as mesas e as cadeiras deste cabaré" - Ela está nos mais obscuros lugares.

"Sou o seu amor profundo" - Seu amor que está em germe, ou que já brotou.

"Sou o seu lugar no mundo" - Ela lhe fez reencarnar.

"Sou a febre que lhe queima, mas você não deixa, sou a sua voz que grita mas você não aceita" - Ela lhe faz ansiar por crescimento espiritual, mas você resiste.

"O Ouvido que lhe escuta, quando as vozes se ocultam" - Na sua oração silenciosa e triste Ela está ao seu lado.

"Nos bares, nas camas, nos lares, na lama" -- Nos mais obscuros, íntimos, respeitáveis e iníquos lugares, Ela está !

"Sou o novo, o antigo, o que não tem tempo, o que sempre esteve vivo..." - Ela é atemporal.

"O que nunca lhe fez falta" -- os ateus não precisam de Deus.

"O que lhe atormenta e mata" - Ela programou seu corpo para a desintegração.

"Sou o certo, o errado, sou o que divide o que não tem duas partes" - O indivisível (átomo) foi dividido, causando o calor da bomba atômica.

"Na verdade existe!" -- Mas os gozadores e ateus não precisam nem de Deus, nem do Espírito.

"Oferece a outra face mas não esquece o que lhe fazem... " - Se alguem lhe bater uma face, ofereça a outra", mas a dívida moral de quem bate estará gravada até o dia do resgate.

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A canção da Causa Primária de todas as coisas !!!!

http://www.youtube.com/watch?v=z-Qfgo8ly1o

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Reeditando o poema "Via Cruxis"

Sexta Santa, 22 de abril de 2011 (no próximo dia 22 de julho o catolicismo comemora Maria Madalena)


"Ele, porém, respondeu: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. Ao que ela disse: Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos."(Mateus 15;26,27)

A tarde é cinzenta, porém quente;
Quente e empoeirada - a poeira das ruas que nossos pés sacodem.
Hoje é a sexta sagrada,
É festa, vamos em bando!
Na velha Jerusalém se prepara a Páscoa.
No templo se oferece o cordeiro.
Fora há turbulência e vozerio; gritos e impropérios.
Um grupo explode: Crucifica-O !
E, acotovelando-se, assistem ao espetáculo - a passagem do Rei!
O festejo é sinistro - há um rastro de dor que seguiremos!
Caminhando entre a massa anônima
Ele passa irreconhecível: Vacila em seu andar cansado,
E vem coroado de espinhos.
Há suor em sua fronte, sangue em seus ombros,
Ombros que sustentam o madeiro.
E de Seu sangue, pingos se misturam com a terra.
No monte, o altar da morte se ergue.
É uma cruz o Seu trono.
Na placa: "Rei dos Judeus".
Parece porem que a turba não O reconhece ou menosprezou seu Rei.
Mas colocada de pé a cruz, nela, Ele nos acolhe de braços abertos.
Neste instante caem por terra meus deuses,
...de prata, de bronze, do melhor ourives...
Despencam todos de seus pedestais,
Caem espalhafatosamente meu orgulho piegas,
Minha vaidade ridícula,
Meu egoísmo miserável.
E agora que eles se desmantelam, não me sobra nenhum outro deus,
Mas tão somente o Deus que o Cordeiro nos veio demonstrar.
----------------------------------------­------------
Nuvens negras, trovões e lampejos
Agora cobrem a cidade santa.
De cima do madeiro o pastor contempla seu rebanho desditoso,
Sorve o vinagre do sofrimento humano que nós bem merecíamos
E chora a sua dor íntima.
Ainda há gritos e impropérios,
Angustia e desolação,
Sangue e suor.
----------------------------------------­-
Cordeiro de Deus, lembra-Te de nós!
Quando entrares no Teu reino, lembra-te de nós!
Como ladrões, estamos crucificados ao Teu redor
Por muito que fizemos,
Mas não vi em Ti nada que Te condenasse.
Lembra-Te de nós!
E não Te esqueças de nos enviar
Gotículas cristalinas da misericórdia de Teu Deus
Para nos refrescar a alma cansada.
Não Te esqueças de nos recomendar a este Deus, o Deus-misericórdia que vieste nos ensinar.
Abençoa-nos com Teu olhar - que enche de luz caminhos tenebrosos.
E lembra-Te de nós!
Na dimensão de Teus palácios siderais,
Porque como cachorrinhos
Esperamos comer das migalhas que caírem de Tua mesa,
E nos sentiremos ditosos,
E nos deitaremos aos Teus pés
Certos do alimento que virá, sempre!
Aureolados pela luz d'A Vida
Teremos a água da fonte eterna -- inesgotável!
Nela saciaremos nossa sede milenar.
E cantaremos, como nos versos do "Rei dos Judeus":
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Vives em mim


Vives em mim !
Estás em cada sonho meu;
Em cada sorriso, em cada lágrima;
Nas gotas da chuva, nos raios de sol.
Vives em mim !
Muito embora um vulto distante que não mais alcanço;

Seu rosto inesquecível não se dissipa;
A foto tão antiga quanto querida não se apaga;
O fantasma do passado, porém presente no presente, não se esvaece.
Tua lembrança se renova, sempre!
Tu és ainda a razão para que eu continue;
E continuo, na esperança de, n'Outro Dia, volver ao teu lado.
E te procuro - em cada caminho meu, te levo comigo.
E te reencontrarei, neste Outro Dia;
Reencontrando-te, poderei dizer-te
: (e te direi:) "Não te posso esquecer!".
Estás em cada amanhecer;
Em cada anoitecer.
Trago comigo teu nome.
Estás em meus dias monôtonos (porém longos e difíceis)
E faço deste amor meu ideal maior.
Tua lembrança me persegue - não me deixa só.
Fugiste do passado e te recolheste no futuro.
Como uma flor, não viveste muito (embora eterno seja teu perfume);
Mas lembrando-te, lembro um ser querido que me escapou das mãos;
Como um poema que deixei inacabado;
Um sonho que deixei , desfeito!
Debruço-me assim em minha janela de recordações;
Na rua de minha alma há um desfile de memórias:
Dias felizes vêm, passam, e não voltam.
Mas no futuro incerto - meu destino - n'Outro Dia, O Tempo estacionará!.
Procure-me então a morte e estarei pronta!
Procure-me a Vida e nela entrarei!
Há um nome que sussurrarei neste longo dia;
Haverá uma última lágrima que derramarei nesta infinitude;
Uma voz que vibrará na acústica de minha alma;
Uma canção inesquecível neste horizonte de luz imortal;
O nome, o rosto, o vulto, a lembrança que carrego comigo;
Comigo estarão; comigo levarei;
E reencontrados, serão as mãos estendidas a me receber;
Braços abertos a me amparar;
Lábios amigos a me beijar,
...no pórtico da Eternidade.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A Estrada


My Way (Paul Anka) Tradução livre:

E agora que o fim está bem próximo,
E transponho a cortina final,
Amigo, deixarei bem claro,
Irei expor meu caso do qual tenho certeza:
Vivi a vida em totalidade,
Viajei por todas as estradas,
E mais, muito mais que isto,
Eu fiz à minha maneira!
Arrependimentos tive alguns,
Mas bem poucos para serem mencionados.
Fiz o que tive que fazer,
Vi tudo, sem exceção,
Planejei cada caminho,
Cada passo, cuidadosamente, ao longo do caminho,
E mais, muito mais que isto,
Eu fiz à minha maneira!
Sim, houve momentos (tenho certeza que você sabe disto)
Nos quais meus passos foram maiores que as pernas,
Mas quando houve dúvida, experimentei, mas rejeitei.
Enfrentei tudo e me mantive em pé.
Eu fiz à minha maneira!
Amei, ri, chorei,
Tive minhas falhas, minhas derrotas,
E agora que as lágrimas descem,
Penso que valeu a pena.
E imaginando que fiz tudo,
Posso dizer, sem timidez:
Eu fiz à minha maneira!
E para que serve um ser humano, o que ele tem?
Se não tem a si próprio, então nada tem!
Para dizer o que ele verdadeiramente sente,
E não as palavras de alguém que se sujeita:
Tudo o que deixei gravado mostra que recebi as adversidades
Mas fiz tudo ao meu modo.
Do meu jeito.
Eu fiz tudo à minha maneira!

(Serra das Russas /Pernambuco)

Lua e Flor (Osvaldo Montenegro)

Eu amava como amava algum cantor
De qualquer clichê, de cabaré, de lua e flor.
Eu sonhava como a feia na vitrine,
Como carta que se assine em vão.
Eu amava como amava um sonhador,
Sem saber porque, e amava ter no coração
A certeza ventilada de poesia
De que o dia não amanhece em vão.
Eu amava como amava um pescador
Que se encanta mais com a rede que com o mar.
Eu amava como jamais poderia
Se soubesse como te contar.


terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Via Cruxis







VIA CRUXIS

"Ele, porém, respondeu: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. Ao que ela disse: Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos."(Mateus 15;26,27)

A tarde é cinzenta, porém quente;
Quente e empoeirada - a poeira das ruas que nossos pés sacodem.
Hoje é a sexta sagrada,
É festa, vamos em bando!
Na velha Jerusalém se prepara a Páscoa.
No templo se oferece o cordeiro.
Fora há turbulência e vozerio; gritos e impropérios.
Um grupo explode: Crucifica-O !
E, acotovelando-se, assistem ao espetáculo - a passagem do Rei!
O festejo é sinistro - há um rastro de dor que seguiremos!
Caminhando entre a massa anônima
Ele passa irreconhecível: Vacila em seu andar cansado,
E vem coroado de espinhos.
Há suor em sua fronte, sangue em seus ombros,
Ombros que sustentam o madeiro.
E de Seu sangue, pingos se misturam com a terra.
No monte, o altar da morte se ergue.
É uma cruz o Seu trono.
Na placa: "Rei dos Judeus".
Parece porem que a turba não O reconhece ou menosprezou seu Rei.
Mas colocada de pé a cruz, nela, Ele nos acolhe de braços abertos.
Neste instante caem por terra meus deuses,
...de prata, de bronze, do melhor ourives...
Despencam todos de seus pedestais,
Caem espalhafatosamente meu orgulho piegas,
Minha vaidade ridícula,
Meu egoísmo miserável.
E agora que eles se desmantelam, não me sobra nenhum outro deus,
Mas tão somente o Deus que o Cordeiro nos veio demonstrar.
----------------------------------------­------------
Nuvens negras, trovões e lampejos
Agora cobrem a cidade santa.
De cima do madeiro o pastor contempla seu rebanho desditoso,
Sorve o vinagre do sofrimento humano que nós bem merecíamos
E chora a sua dor íntima.
Ainda há gritos e impropérios,
Angustia e desolação,
Sangue e suor.
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Cordeiro de Deus, lembra-Te de nós!
Quando entrares no Teu reino, lembra-te de nós!
Como ladrões, estamos crucificados ao Teu redor
Por muito que fizemos,
Mas não vi em Ti nada que Te condenasse.
Lembra-Te de nós!
E não Te esqueças de nos enviar
Gotículas cristalinas da misericórdia de Teu Deus
Para nos refrescar a alma cansada.
Não Te esqueças de nos recomendar a este Deus, o Deus-misericórdia que vieste nos ensinar.
Abençoa-nos com Teu olhar - que enche de luz caminhos tenebrosos.
E lembra-Te de nós!
Na dimensão de Teus palácios siderais,
Porque como cachorrinhos
Esperamos comer das migalhas que caírem de Tua mesa,
E nos sentiremos ditosos,
E nos deitaremos aos Teus pés
Certos do alimento que virá, sempre!
Aureolados pela luz d'A Vida
Teremos a água da fonte eterna -- inesgotável!
Nela saciaremos nossa sede milenar.
E cantaremos, como nos versos do "Rei dos Judeus":
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"


http://www.youtube.com/watch?v=WZMDmqmx0p0

Ayrton Senna

Nas estrada sinuosas vi meu destino,
Meu pai me disse:
"filho, supere seus limites"
No inconsciente gravei: "Viva rápido, morra jovem !!!!"
...e a morte foi minha companheira;
"minha morte nasceu comigo, brincou comigo...(Mario Quintana)"
...e correu comigo!
Venceu curvas e superou limites,
Travestida de belíssima ninfa, de alvíssimas vestes,
Que com um misto de ternura e cinismo me convidava a desafiá-la.
E sob essa estrela acumulei vitórias,
E sob o signo de Alexandre, ganhei o mundo,
Mas serei vencido por um muro,
Assim como o macedônico foi vencido pela febre.
A multidão anônima não acreditará,
Pois seus heróis não podem ou não devem morrer;
E quando minha ausência se fizer firme como meus troféus na estante,
Lágrimas quentes das amantes abençoarão a TV,
Não entendendo elas que a Morte as substituiu,
E amparado em seus braços e seios de ninfa,
Penetrando em suas entranhas,
Lhe provarei o supremo orgasmo.
Ponho o capacete e acelero a máquina que me levará a uma viagem sem retorno,
Estou no asfalto - duzentos quilômetros por hora!
Sinto-me livre, mas estou preso aos limites da estrada,
Ao circulo vicioso das curvas como a alma humana esta presa ao círculo vicioso das reencarnações.
E só aqueles que superam seus limites vencem esse círculo,
E transformam numa reta as curvas sinuosas do destino.
Firme piso no acelerador e supero mais uma curva,
Agora são 250 quilômetros por hora !!!!
Meu gólgota e minha cruz me esperam...
...em Imola me imolei !!!!
E tomo do cálice, pois no vinho do sacrifício há mel dulcificante.
E no êxtase máximo do passamento tomarei a morte em meus braços,
E nos promiscuiremos nos alvos lençóis do etéreo
Como amantes que há muito se procurassem,
E derramarei meu sêmem no espaço!
Acelero ainda mais: 300 quilômetros por hora!
É chegado o momento da morte da semente nas entranhas da terra
Para gerar vida !!!
E o muro que me aguarda são os braços ciclópicos dos moinhos que venceram Don Quixote;
E eis que a curva traiçoeira do destino se transforma numa reta!
Já posso ver o muro mais adiante!
É questão apenas de segundos...
A morte, belíssima ninfa, vestes alvíssima, como noiva ataviada abre os braços e me sorri.
"Doce companheira que esperei por toda vida,
Receba-me em seus braços, ampara-me,
Deixa-me repousar a cabeça dolorida em seus ombros."
E enquanto meu corpo de carne se desagrega
O infinito se abre diante de mim
Como estrada imorredoura, contínua, reta,
Para os desafios de uma eterna Pole Position.

Uma tarde com a amiga.

Desci aos porões dos meus desejos.

Uma carícia maliciosa e rolamos na cama.
Abri sua blusa, rasquei minha calcinha
Lá fora uma tarde fria - aqui dentro, nossa chama.
Você foi minha!
Onde estavam nossos homens?
Estávamos sozinhas!

Mordi seus lábios
Suguei seus seios
Beijei todo seu corpo
Mulher e amiga - olhar cúmplice.
Sedutora e cínica - um beijo quente,
Quente e molhado como nunca antes.
Mulher de apenas um homem e várias amigas.
Amigas não, amantes!

Voltaremos a rolar de novo na cama.
Quando nossos homens não estiverem por perto.
O toque, o abraço, o beijo quente,
O carinho malicioso, o desejo latente,
Não importando se errado ou se certo.

...e um fim de tarde juntas,
Debaixo do chuveiro, a água fria;
Sobre os corpos, o sexo ardente.
Depois, diante dos maridos, o sorriso confidente;
Tímido, acanhado, mas patente
Que nâo esconde nossa especial amizade fora de padrões:

O inconfessável desejo oculto em nossos porões.

A Harpa


A Harpa.

"Entramos. Ambiente simples e acolhedor. Móveis quase idênticos aos terrestres; objetos em geral, demonstrando pequeninas variantes. Quadros de sublime significação espiritual, um piano de notáveis proporções, descansando sobre ele grande harpa talhada em linhas nobres e delicadas."
("Nosso Lar" - André Luiz - Cap. 17)


Retorno ao Nosso Lar,
Volto à infância, venho em visita ao passado!
Encontro ainda a mobília simples
E quadros na parede como janelas,
Abertas à paisagens divinas - parecem inundar de luz o ambiente.
Há também um piano, e sobre ele, uma harpa.
A Harpa!
Instrumento atemporal - presença incômoda!
- me Leva de volta à uma época ainda mais distante,
- ainda mais recuada !
Lembranças adormecidas na minha casa mental!

Tenho medo de tanger a harpa !
Fazendo vibrar suas cordas
poderei ouvir um som que me faça tremer
E recordar qualquer coisa longínqua
Mescla de pesadelo e doce sonho.
Tenho medo de recordar caminhos esquecidos,
no som de um instrumento que não perdoa passados,
Qualquer coisa de escuros passados !

Alma culpada,
Temo que meu passado se exponha como quadros na parede.
Mas, que alegria: aqui eles são, em verdade,
Imagens de caminhos abertos ao infinito.
E uma luz branda e branca
Em forma de vulto
Convida-me a seguí-la.
Será um anjo que há muito me espera?
Deus mesmo em humana silhueta?

"O passado não importa" - diz o vulto -,
"Para a alma redimida na escola do pó da carne!"

Mas ainda assim tenho medo de tanger a harpa.

Janelas abertas, quadros vivos, de luz inundando o ambiente,
Ampliando veredas para o infinito - janelas divinas !
Dentro do recinto, a mobília simples, o piano, a harpa - o passado!
Lá fora, o futuro!
Onde aquele Ser, de branda e branca luz, me sorrir, e me abre os braços amigos.

http://www.youtube.com/watch?v=EBDrIjxmKuU

Garota de Programa

Meus pés não tinham um rumo
- vagueavam vagabundos.
Minha alma não tinha um prumo
- volúvel, vazia, flutuava
Meu corpo não tinha dono
- eu mesma não o possuía.
Mas tinha um preço.
E carregado pelas ondas da aventura
Era navio perdido, sem porto – meu corpo!
...e afundava em alcovas estranhas.
Meus seios conheceram bocas estrangeiras;
Meus lábios beijaram corpos desconhecidos;
Minha boca chupou falos de estranhos;
Mãos estranhas me apalparam;
Clientes me procuraram e me tiveram;
Homens vieram e por mim passaram;
Seres que jamais tornarei a ver.

Quando garota, o mar lambia meus pés,
Voltando agora ao local dos meus dezoito anos,
Piso a areia e o mar, reencontrando-me, vem novamente me beijar.
Mas ele não me paga por isso,
Eu que deveria retribuí-lo com meus carinhos.
Mas ele não pede.

Gemidos de prazer - neste momento - não vibram em meus ouvidos.
Agora é o silvar do vento na praia,
Por onde andou e por anda a antiga prostitutazinha.

...finalmente dona do próprio corpo,
Retorna ao lar,
Repousando na alcova das fantasias mortas da juventude.
---------------------
http://www.youtube.com/watch?v=Am3ygj_0hZ8

Maria Padilha

Sou Espírito e sou matéria.
- me completo na matéria!
Sou Sucubos, sou invasora.
Sou a rainha Pomba Gira.
Sou o anjo da sedução e da luxúria.
Sou mulher e sou deusa.
Tenho o prazer da carne no espírito!
(...enquanto você tem o espírito mergulhado no prazer da carne)
Venha ter comigo também.
Venha conhecer meu espírito e minha matéria.
Venhar se banhar no meu suor.
...se recarregar em minha energia
...me conhecer...
Sussurre meu nome em seu quarto.
...grite meu nome em sua alma!
Eu sou Padilha, Maria eu sou!
Maria Padilha !!!!!!!!

A Meretriz

Era uma meretriz na estrada
Ataviada, bonita, perfumada.
Tu me acenaste com um saquinho de moedas.
Negócio aceito, compraste meu corpo
Na estalagem de luxo
Deitei-me nua sobre teu corpo lindo de homem.
Com sede, chupei ávida teu membro
Como nenhuma mulher antes te fez.
Cavalguei teu penis como uma amazona sobre um corcel
Rebolados violentos de meretriz
Cadela!!!! Tu gritaste.
Cadela não, loba !!!! no cio
Para te devorar - sou loba
Meretriz, com sede de suor e esperma.
Tu me penetras com teu membro
Eu te penetro com meu olhar
Tenho agora minhas garras em ti.
Tu compraste meu corpo, mas eu roubei tua alma.
Tenta fugir! porta fechada, chave perdida!
Escravo meu agora tu és - do sexo !!!
Não viste com quem te meteste?
Com Padilha, a rainha pomba-gira! Logo com quem!
Só Deus pode agora te libertar, mas Ele não quer - e nem tu mesmo queres.
Tua mulher loba te devora todo, meu homem-animal.
Meu corpo suga até a última gota do teu esperma
E se banha no orvalho do teu suor
O dia amanhece e adormecemos abraçados - nús
Cansados de tanto gozar.